Maus-Tratos em Unidade de Saúde: Relato de Paciente de 56 Anos Levanta Alerta Sobre Atendimento no Hospital Regional de Arcoverde
Introdução: A Gravidade das Denúncias de Maus-Tratos em Unidades Hospitalares
Casos de violência institucional e maus-tratos dentro de unidades de saúde vêm ganhando cada vez mais visibilidade no Brasil, especialmente quando envolvem pacientes em situação de vulnerabilidade. O relato de um homem de 56 anos, vigilante e morador de Arcoverde, reacende a urgência de discutir a qualidade, a ética e o cuidado que devem nortear o atendimento médico-hospitalar.
O episódio ocorreu na noite da última sexta-feira (14), quando o paciente buscou ajuda no Hospital Regional de Arcoverde após sentir fortes dores no peito e falta de ar, sintomas tradicionalmente associados a quadros clínicos graves. No entanto, o que deveria ser um atendimento de emergência transformou-se em uma experiência traumática, segundo o próprio paciente relatou.
O Início da Noite: Dor Intensa, Falta de Ar e Busca por Atendimento Imediato
Segundo o relato, o vigilante começou a sentir um mal-estar intenso, com forte dor torácica e sensação de sufocamento. Preocupado com a possibilidade de um evento cardíaco, procurou a emergência do hospital por volta das 21h.
Após a realização da ficha de atendimento, aguardou por cerca de uma hora, até que finalmente foi chamado para a chamada “sala vermelha”, área destinada a pacientes em estado crítico.
Entretanto, ao ser conduzido ao local, percebeu algo estranho: nenhum exame, triagem adequada ou consulta médica havia sido realizada até aquele momento. Preocupado e confuso, questionou o motivo de estar sendo levado para uma área de maior risco sem justificativa clínica aparente.
A Sala Vermelha: O Momento em que o Atendimento se Transforma em Violência
O vigilante afirma que permaneceu sem respostas quando questionou o motivo da internação na sala vermelha. Diante do silêncio dos profissionais, relatou ter se sentido inseguro, nervoso e insistiu em saber por que estava ali.
Foi então que, segundo ele, duas pessoas o seguraram pelos braços, o deitaram em uma maca colocada no chão e o amarraram pelos pulsos e tornozelos.
O relato é grave e remete a práticas que violam princípios fundamentais da ética médica, do atendimento humanizado e dos direitos do paciente.
As marcas registradas — mostradas posteriormente em vídeo — seriam resultado de sua tentativa desesperada de se soltar e deixar o local.
Aplicação de Medicação e Perda de Consciência
O vigilante relatou também que, após ter sido imobilizado:
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foi medicado sem explicações,
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e então apagou completamente, despertando somente na noite de sábado.
Ao acordar, descreveu estar com fome, sede, usando fralda descartável e completamente desorientado. Ele afirma ter pedido água e alimento diversas vezes, mas afirma que os profissionais presentes não o atendiam, como se o ignorassem.
O episódio, segundo ele, configurou uma das maiores humilhações de sua vida.
Alta Sem Informações e Ausência de Transparência Médica
O vigilante recebeu alta no domingo (16), por volta das 9h da manhã.
No entanto, segundo o próprio paciente:
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não recebeu explicação sobre os exames realizados,
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não recebeu receita médica,
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não ouviu diagnóstico,
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e não foi orientado sobre cuidados posteriores.
A ausência de informações básicas fere o Código de Ética Médica e normativas do Ministério da Saúde, que garantem ao paciente o direito de ser informado sobre seu próprio estado de saúde e sobre qualquer procedimento realizado.
Denúncia à Imprensa: Um Pedido de Justiça e Respeito
Temendo represálias, o vigilante preferiu não ter seu nome divulgado, mas decidiu procurar a imprensa na manhã de segunda-feira (17) para denunciar o ocorrido.
Segundo ele, seu objetivo é evitar que outros pacientes passem pelo mesmo tipo de situação.
A rádio Itapuama FM, responsável pela reportagem original, encaminhou o caso à assessoria de comunicação do Hospital Tricentenário, organização social responsável pela gestão do Hospital Regional de Arcoverde. A resposta da instituição ainda está sendo aguardada.
Maus-Tratos em Unidades de Saúde: O Que a Lei Diz?
Episódios como este acendem debates importantes. No Brasil, nenhum paciente pode ser imobilizado sem justificativa clínica formal, sem acompanhamento médico e sem documentação adequada.
A legislação prevê que:
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A imobilização só pode ocorrer em casos de agitação psicomotora comprovada, risco de agressão ou risco iminente ao próprio paciente.
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Deve ser documentada no prontuário.
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Deve ser acompanhada de monitoramento contínuo.
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O paciente tem direito à informação clara, acessível e contínua.
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O uso excessivo de força é proibido.