Pai assassinado na barbearia: a violência que interrompe vidas e marca infâncias no Recife

 

Pai assassinado na barbearia: a violência que interrompe vidas e marca infâncias no Recife



Por [Fofocas de Pernambuco]

A barbearia da Rua Jundiaí, no bairro de Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife, sempre foi vista como um ponto de encontro simples e acolhedor. Um lugar onde conversas fluem, crianças brincam enquanto esperam os pais e o tempo parece correr mais devagar. Mas na manhã de sábado, esse ambiente cotidiano se transformou em cenário de desespero. Um jovem pai de 25 anos foi brutalmente assassinado enquanto segurava o filho de apenas três anos no colo — um crime que deixou o bairro em choque e revelou, mais uma vez, a ferida aberta da violência urbana na capital pernambucana.


A manhã que virou tragédia

O homem havia ido ao estabelecimento com o filho, como fazia com frequência. Era para ser apenas mais um corte de cabelo, daqueles que se resolvem em poucos minutos. Mas a rotina foi quebrada quando um homem armado entrou no local e disparou diversas vezes, sem hesitação, sem olhar para quem estava ali apenas vivendo o próprio dia.

O pai morreu ainda no local. O menino, ferido, foi socorrido às pressas. Um terceiro jovem, de 21 anos, também foi baleado. Os dois sobreviventes foram levados para atendimento médico, enquanto a comoção se espalhava pelas ruas estreitas do bairro.

Uma vizinha que ouviu os disparos relatou que, por longos segundos, ninguém sabia se corria, gritava ou tentava ajudar. “Foi um desespero que não dá pra esquecer. A gente escuta tiro, mas nunca imagina ver uma criança no meio disso”, contou, ainda abalada.

Infância interrompida pelo trauma

A imagem que passou a rondar a comunidade é a de um menino pequeno, ensanguentado, sem entender o horror que acabara de ocorrer. Uma criança que deveria estar preocupada apenas com brinquedos, desenhos e abraços, mas que agora carrega uma marca que não será apagada facilmente.

Especialistas em psicologia infantil costumam dizer que episódios como esse deixam cicatrizes profundas — e mesmo com apoio profissional, o repertório emocional de uma criança tão pequena não está preparado para compreender a perda abrupta de uma figura paterna, muito menos para lidar com o impacto violento do crime.

Para a família, o que resta é um vazio imensurável: um filho sem pai, uma mãe sem companheiro, parentes tentando juntar fragmentos de uma rotina destruída.

Uma comunidade em choque — e em revolta

Jardim São Paulo é um bairro de trabalhadores, comerciantes, moradores que se conhecem pelo nome. A notícia se espalhou como um estilhaço. Em poucas horas, grupos de vizinhos se reuniram na rua, comentando entre si a mesma pergunta: como chegamos a esse ponto?

A barbearia fechou as portas. As cadeiras vazias e as luzes apagadas refletem o silêncio pesado que se abateu sobre o local. Quem vive ali sabe que a violência é uma presença constante, mas a ideia de um crime tão cruel, cometido à luz do dia, atingiu de maneira mais profunda. A sensação coletiva é de insegurança crescente — como se qualquer um pudesse ser a próxima vítima.

Um retrato de um problema maior

A morte desse jovem pai não é um caso isolado. A capital pernambucana registra, nos últimos anos, um aumento de episódios violentos cometidos em espaços públicos: bares, mercadinhos, calçadas, oficinas, salões de beleza. Lugares que deveriam representar convivência e segurança transformam-se em territórios de risco.

Especialistas em segurança apontam que não se trata apenas de números, mas de um colapso que envolve ausência de políticas eficazes, circulação diária de armas ilegais e falta de presença ostensiva do Estado. Em muitos bairros, moradores sentem que vivem em uma terra sem lei — e esse sentimento, por si só, já é devastador.

A investigação e o clamor por respostas

O caso está sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que tenta reconstruir a motivação do ataque, a rota de fuga do suspeito e os possíveis vínculos por trás da execução. Familiares e moradores cobram celeridade — mas também exigem algo mais profundo: querem que essa morte não seja apenas mais um número no relatório mensal.

Em meio ao luto, uma frase se repete entre aqueles que conheciam o pai assassinado: “Ele só queria viver e cuidar do filho.” É essa simplicidade — esse desejo comum a tantas famílias — que torna o crime ainda mais cruel.

O que resta agora

Resta a dor. Resta a indignação. Resta o menino que, cedo demais, conhecerá o peso da ausência. E resta para o Recife a obrigação de encarar a própria realidade: a violência não é uma manchete distante, não é uma estatística. Ela tem rosto, tem nome, tem história — e destrói vidas que estavam apenas tentando existir.


Enquanto o bairro tenta retomar a rotina, a sensação é de que algo foi perdido para sempre. Não apenas uma vida, mas a própria crença de que lugares simples, como uma barbearia de bairro, ainda são espaços seguros.

A esperança, para muitos, está em que este episódio se transforme em um marco. Que a morte desse jovem pai sirva de alerta e de impulso para mudanças reais. Porque cada vida interrompida pela violência é um grito que ecoa — e que não pode continuar sendo ignorado.

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